segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Caminho do Sol - Dia 2 - Santana de Parnaíba à Itu

Here Comes the Sun...
Eram seis da manhã quando os Beatles me despertaram. Uma melodia muito boa para uma aventura tão diferente. Eu mal sabia o que me esperava pela frente, mas este foi um dia de  Sede, Suor e Lágrimas.

Tomo o café rapidamente e ponho a bike na estrada. A pousada era bem simples, das acomodações ao café da manhã. Antes das sete já estava pedalando os primeiros 14 km rumo a Pirapora do Bom Jesus. Um trecho íngreme, onde não tive vergonha alguma em descer da Moça e empurrar. Aliás, mal sabia eu que isso se tornaria uma constante na viagem. Esta viagem é focada no prazer de pedalar e conhecer novos lugares, e não no sofrimento físico. Portanto, chegou uma subida chata eu já descia da bike e ia caminhando. Nesta hora percebi que perdi um dos meus pares de luvas. Baixa 1.

Sim, lá longe está o nosso poluído rio. Ainda assim, ele sabe ser belo.
Este trecho possui paisagens lindas! Por várias vezes é possível ver o rio Tietê, que mesmo exalando um odor horrível, ainda mantém certa beleza visual, completando a paisagem. Esta estrada é famosa por suas subidas intermináveis, mas o visual compensa.

Tietê em Pirapora do Bom Jesus.
Minha burrada foi típica de caipira de cidade grande: achar que haveria um posto de gasolina em cada esquina. Saí de Santana sem água e passei 13km com a língua seca. Quando cheguei em  Pirapora passei voando, parando apenas para comprar água e um Gatorade. O trecho entre Pirapora e Cabreúva foi o meu preferido até agora, principalmente depois que a estrada se reencontra com o Tietê. Neste trecho não há grandes subidas e a pedalada rende, até fiz um vídeo-piada sobre as corredeiras do Tietê.


Cabreúva.
Chegando em Cabreúva, segui todas as setas amarelas do Caminho do Sol e cruzei a cidade rapidamente. Ao sair pela rodovia, paro embaixo de uma árvore para descansar e como uns biscoitos. Vejo que estava com 50% de reserva de água mas decidi continuar, programando parar na próxima venda pra completar. Mais um erro. Alguns km acima, chego na Pousada Colinas, que é ponto de parada para quem faz o caminho a pé. Como para entrar na pousada havia realmente uma colina a ser vencida, continuei meu caminho pela estrada. Logo à frente começa uma subida que muito me lembrou a serrinha da Rio-Santos, entre Boiçucanga e Maresias. Era menor e menos íngreme, mas com o cansaço ela se tornou cruel. Subi quase toda empurrando, jogando a Moça pro mato quando vinha caminhão. Já exausto e sem ar, com a água quente e sem saber quando aquele barranco acabaria, bateu um desespero. Havia reparado que as setas amarelas que indicam a rota do Caminho do Sol haviam sumido. Será que estava no lugar errado? VRUUUMMM... outro caminhão passa colado, me desconcentrando. Estava tão preocupado que meu cérebro parou de computar o barulho dos veículos que vinham, e passou a ficar perigoso. Mas um dos meus objetivos ao fazer o Caminho do Sol era exatamente trabalhar meu auto-controle e minha capacidade de gerir em situações extremas. Graças a Deus, uns 400m adiante havia um ponto de ônibus, onde pude parar e descansar. Daí percebo que minha toalha de rosto também se perdeu em algum momento da viagem. Baixa 2.

Última gota de água, ninguém por perto, 3G inexistente pra consultar GPS, informação confusa no guia de bolso... fiquei entre descer todo o caminho e entrar na pousada pra me informar, ou arriscar seguir em frente.  Conclusão: desci toda a serrinha até a pousada, somente para descobrir que estava no caminho certo e subir tudo de novo. Pense num homem cansado que ainda precisaria pedalar outros 23 km naquele dia. Uma simples flecha pintada na subida da serra teria me tranquilizado. Enfim, é um erro que vou reportar para eles melhorarem. Porém, o atendimento na pousada foi tão bom que diminuiu a tensão. Lugar simples, mas com uma natureza bonita ao redor e piscina. Pretendo voltar nela com minha noiva.
Descansando depois de pedalar em círculos.

Estrada à frente, abastecido com muita água, encaro a subida novamente. Sofrível. Estava cansado e porisso pareceu ter demorado mais. Somando o tempo entre ter decidido voltar, descansar e subir de novo, perdi 1:30h do dia, e o sol ficando forte.

Mais à frente começou o trecho de terra, onde encarei uma subida em igual proporção à anterior, e com o sol rachando... vi que meu estoque estava no fim e passei a racionar. Meus pés passaram a doer e comecei a ter cãibras na musculatura da perna.
Hospitalidade interiorana e simplicidade cativante.
5km depois, chego ao Armazém do Limoeiro, onde mandei um sanduíche de mortadela e duas tubaína, além de ficar de prosa com o Sr. Clemente e a Dona Lalá, verdadeiros patrimônios da humanidade. Depois da perrenga tão grande pela qual eu passei, a recepção deles com música regional, o hino do Caminho do Sol e uma volta pelas redondezas para conhecer a capela, me emocionei. Pensei em minha mãe, que tanto gosta da simplicidade interiorana e que trarei em breve para conhecer e comprar um queijinho da fazenda. Ao sair, na primeira pedalada, sinto como se um cachorro mordesse a batata da minha perna! Outra cãibra, como nunca tive antes. Não conseguia mexer nada, tudo travado e uma dor absurda. Estava com uma energia tremenda pra continuar o caminho e assim que a perna amoleceu parti caminhando para estes últimos 11km do dia. Chegava na descida, subia e ia no embalo. Mais de 2h depois, cheguei no Haras do Mosteiro, onde passaria a noite.
Cores do Brasil: verde, amarelo, azul e branco.
Banho tomado, corpo moído... dei uma relaxada na cama e depois fui dar uma volta pelo haras. Lugar aconchegante, com belos cavalos, galinhas, paisagem interiorana e água gelada. O sol ia se pondo preguiçoso e o cheiro de comida boa ia dominando o ambiente. A Dona Rute preparou um jantar delicioso no fogão a lenha: salada, legumes, picadinho com batatas, arroz e feijão. Perfeito! Depois de um dia puxado, uma banquete. Para fechar o dia, um por-do-sol de tirar o fôlego!
Fogão à lenha, jantar delicioso!
O dono do caminho indo embora.
Estava cansado, com dores no corpo e com dúvidas se continuaria. Apesar de usar a bike 7 dias por semana na cidade, a Estrada dos Romeiros é cruel, quase sem trechos planos para descansar. Para ajudar, cãibras inéditas em minha vida, mas uma noite de sono faz milagres! Temi pelo que viria, mas pagaria para ver. História esta que contarei no próximo post.


Segunda, 3 de Fevereiro de 2014
Km pedalados: 63
Baixas: um par de luvas e uma toalha de rosto.
Ouvindo: modas de viola e o hino do Caminho do Sol.

2 comentários:

  1. Haha, eu também passei por pane seca, logo no começo da minha viagem, sob um sol de 35 graus. Desde então nunca mais saí sem um bom estoque.

    Espero que já esteja recuperado a essa altura.... Boas pedaladas.

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  2. Gabriel... é verdade a questão das súbidas...
    também sofri com isso... mas no fim vale a pena...
    continua firme no pedal, força...

    Cicloabraços
    Joaozinho

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