sexta-feira, 15 de maio de 2015

Micovias around the world.

Pra quem não sabe, a prefeitura está sendo alvo de críticas pela sua política de priorização ao transporte coletivo, pedestres e ciclovias. Os maiores "indignados" são jornalistas rabo-preso, políticos de oposição e motoristas que acham que lugar de bicicleta é no parque.

São o mesmo tipo de gente que é especialista em aviação quando um avião cai, que é geóloga quando há terremoto e agora, especialista em engenharia de tráfego. tudo na mesa do boteco ou nas linhas de comentários dos sites de notícias.

Nestes últimos dias se espalharam nas redes sociais uns memes bem divertidos em defesa das ciclovias. Na verdade, as ciclovias paulistanas não são piores nem melhores do que a maioria das vias ao redor do mundo! A diferença é que existe uma síndrome de vira-latas na nossa sociedade, que enche o peito pra dizer "só no Brasil". Bem feito para eles.





















Eu particularmente prefiro uma via segregada, ainda que imperfeita, do que encarar a via dos carros. Pedalando junto aos outros veículos, tenho que ficar esperto nos buracos e nos imprudentes motorizados. Prefiro me preocupar somente com os buracos, mesmo porque são problemas pequenos, comparados à ignorância de alguns.

Origem das imagens:
vadebike.org
Facebook
Fórum do site pedal.com.br


sexta-feira, 8 de maio de 2015

Futebol de rua, tijolos e ensinamentos.

Fugindo um pouco do assunto bicicleta…



Lembro de muita coisa boa da minha infância, que me ajuda nos dias atuais.

Lembro dos tempos que jogava bola na rua, riscando tijolos no asfalto para demarcar as áreas, o meio de campo e ainda usávamos eles como traves. Como sempre havia uma construção por perto, a oferta de tijolos supria nossa demanda (às vezes fortalecia nossas pernas, afinal, correr de pedreiro não é fácil!).

Lembro que sempre passava pela nossa rua um moço sério, aspecto europeu, porém com olhar concentrado que nem olhava para os lados. Passos rápidos, sequer olhava para o lado para nos cumprimentar. E isso era um incômodo, algo estranho. Afinal, na São Paulo dos aos 80 ainda era comum as pessoas se cumprimentarem.

Os anos passaram, o futebol de rua com tijolos continuava. Os campos passaram a ficar maiores, afinal, a gente crescia. A bola, antes uma qualquer dente de leite, agora era de capotão e mais pesada. Bem, a gente crescia e chutava mais forte né? Só duas coisas não mudaram: os tijolos e o moço sério e mal educado.

Depois de um tempo, largamos a vida clandestina de roubar tijolos ao pintarmos o campinho no asfalto. Portanto, o moço sério passou a ser a única coisa que permanecia do mesmo jeito: passava por nós, com olhar concentrado e jamais cumprimentava.

Mais anos passaram. Confesso que não lembro quando que deixamos de jogar bola para “dar bola” para garotas! Foi uma época divertida. Viajávamos, íamos pra balada, tomávamos nossos primeiros porres, aprendemos a dirigir, ficávamos “de boa” conversando na calçada madrugada adentro… mas uma coisa não mudou: o moço, agora um homem de uns 30, 40 anos. Concentrado, silencioso e a passos largos.

Até que certo dia, às vésperas do Natal, ele passou perto de nós e eu arrisquei:
“- Feliz Natal!”
Ele tomou um susto! Virou e olhou para mim, com os olhos arregalados. Segundos depois, disse:
“- Feliz Natal pra você também!”

Foi a deixa pra ele sempre parar pra conversar com a gente, até darmos algumas risadas juntos. Descobrimos que ele se chamava Robson, estudava engenharia em Mogi. Percebemos que ele era especial. Enfim, bastou um aceno para uma amizade surgir com a turma toda. A gente era bem bobo, brincava muito com ele. Confesso que às vezes de maneira errada. Adolescentes noventistas não eram perfeitos.

Mas finalmente podíamos dizer: tudo mudou.

E com tudo mudando, nossa turma aos poucos se dissipou. Crescemos, tiramos carta, entramos em ETE, faculdade… daí cada um seguiu um rumo na vida. Toda galera tem aquele que namora e some. O que vira crente e desaparece. Fora os que passaram a andar com outras turmas. Acho que eu fui um desses.

Tempos depois, o nosso amigo Robson teve um problema de saúde e também nos deixou. Foi triste. Pelo menos tivemos a felicidade de saber seu nome, acredito que ele gostou de nos ter como amigos também.

Hoje mantenho contato com algumas das pessoas dessa época. Sinto saudades, mas não viveria nada de novo. Cada época é pra ficar guardada no coração, nas lembranças. Tiramos dessas lembranças lições que servem para a vida toda.

E uma dessas lições aprendi com o Robson: não fazer pré-julgamentos. Aquele moço sério que aparentava ser mal educado era apenas uma pessoa solitária e tímida, que assim que viu uma janela aberta passou a deixá-la sempre assim. Quantas vezes julgamos alguém pelo que ela aparenta? Eu mesmo já fui chamado de “metido” pela minha timidez. Às vezes, pelo meu modo de falar, pareço arrogante.

Mas enfim, sempre aprendendo. Espero poder um dia ensinar também. Pra isso, carrego essas lembranças no coração.

Eu fui: Lançamento do livro "A Bicicleta no Brasil"

  
  Nesta quinta (7) fui ao lançamento do livro “A Bicicleta no Brasil”, na Biblioteca Mário de Andrade.
O livro é fruto de uma parceria entre várias associações de ciclistas, o evento contou com representantes da prefeitura e vários cicloativistas.


O livro é dividido por capítulos, apontando dados sobre diversas capitais brasileiras. Abordam a condição geográfica e climática, iniciativas em prol da bicicleta ao longo dos anos e sobre associações de ciclistas na cidade. Tudo detalhado em números, imagens e numa diagramação limpa de bom gosto.

Para quem deseja adquirir o livro, ele está disponível em PDF para download: Clique aqui, preencha com seus dados e adquira seu exemplar!


Fora do assunto: 
  • Nunca vi tantas bikes com guidão borboleta! 
  • Do Ibirapuera até o centro em 50 minutos, só por ciclovias e no ritmo da lesma. 
  • Descer a Rua Vergueiro sentido centro se jantar é uma tortura: lotada de faculdades e botecos, o cheiro de churrasco, batata frita, bacon e inúmeras lanchonetes e restaurantes no caminho podem te matar.

terça-feira, 5 de maio de 2015

Resetem nossa sociedade.

 

Há algumas semanas, um blogueiro cicloviajante teve sua bike roubada no Guarujá. De brinde levou um tiro de raspão e ainda sofreu ameaças dos bandidos após fazer o B.O. A polícia pouco fez, senão se livrar do problema orientando ele a apagar seu facebook e trocar de telefone, numa total inversão de valores e má vontade. Pior: o local aonde sua bike está é conhecido pelos policiais, que passaram a empurrar a bronca entre eles (civil x militar).

Na mesma semana, uma equipe de reportagem da maior emissora do país sofreu um assalto na mesma cidade. Com divulgação em rede nacional, os pertences foram recuperados no mesmo dia e pasmem, o bandido foi até uma delegacia e se entregou!

Isso deixou ele tão desmotivado (e puto, com razão), que ele abandonou o ciclismo e retirou seu blog do ar, com anos de postagens e boa leitura para quem gosta de pedalar. Não o culpo, afinal ele quase morreu e ainda está sendo punido por ser cidadão.

A solução para isso? Borrachada, bala na testa e cadeia.
NÃO! Isso é como tentar resolver epidemia de dengue com drops pra garganta! O ato de remediar está sempre atrelado a uma reatividade, ou seja, partir pra ação apenas quando o problema já está exposto.

O que chamam de “policiamento preventivo”, com “policiais fortemente armados”, não combate o crime. No máximo, faz o ladrão procurar outras vizinhanças, e não outra ocupação. Falar que “bandido bom é bandido morto” não fará o ladrão abandonar o crime, pelo contrário: fará o vagabundo ser mais agressivo e rápido a cada assalto, para não haver chance de falha. Atirar na vítima cria uma distração a mais, para ele poder fugir.

Nossa política de segurança tenta apagar um incêndio jogando álcool no fogo.

Temos que parar, refletir o que está acontecendo com o país e assumir que esta geração e a próxima estão condenadas. Não dá pra curar quem passou a vida inteira sendo doutrinado nas coisas erradas, infelizmente. No máximo, condicionar. Mudar uma sociedade não é apenas dar crédito pro cara comprar supérfulos, mas sim começar a adubar um solo, para lá na frente, a árvore começar a dar flores, para enfim começar a dar frutos.

Engoliremos a vergonha do nosso fracasso atual se reiniciarmos, passarmos a investir em educação. Não falo só de trigonometria nem de física. São temas importantes, mas o principal é outro: história e cultura. Direitos civis também. Fazer o brasileiro conhecer suas origens, conhecer a história da humanidade, as barbáries das guerras e ensinar respeito ao próximo, a idosos, a pais, familiares. Ensinar compreensão e tolerância. Para a agressividade natural do homo sapiens? esporte. Após uma ou duas gerações, teremos pessoas que valorizam o esforço, que se interessam naturalmente por literatura. Pessoas mais tolerantes e críticas, que sabem que no coletivo todos somos mais fortes, mas para construir coisas boas. Sem esforço, posso imaginar que a sociedade estando mais esclarecida irá priorizar mais uma casa com encanamento regular do que uma TV de led, ou investir em reboco valorizará seu patrimônio muito mais do que rodas de liga leve em seu carro popular. Sim, essa é outra triste realidade: vejo muita gente morando precariamente, mas com tv de 42 polegadas no quarto, vídeo game, celular e carro todo equipado. Uma inversão de valores que só prende o pobre cidadão à sua própria miséria, sem evolução. Carros e eletrônicos tem data de validade, ele irá gastar mais uma dinheirama no ano seguinte pra manter-se na ponta, enquanto bens duráveis como uma casa, são deixadas eternamente em segundo plano.

Somos reféns dessa realidade. Não adianta culpar o governo federal e bater panelas, se a segurança pública e a educação são responsabilidade de prefeituras e estado. Somente aumentar as verbas de educação não adiantará, pois acabará nas mãos de vereadores, prefeitos e deputados tão contaminados quanto aqueles bandidos que roubam bicicletas e atiram em inocentes.

A solução está aí, mas sua implantação é talvez seja o maior desafio.