quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Terra.

Quando terminei o Caminho do Sol, defini pra mim mesmo que evitaria ao máximo estradas de terra. Cansam mais, requerem maior atenção e fazem 1 km parecer 3.



Não mudei nenhuma das opiniões acima, mas depois de uns dias descansando as panturrilhas e pés, as dores se vão e ficam as lembranças. Lembrei que pedalei com calçados inadequados, no período mais quente e numa das regiões mais áridas do estado. Lembrei também das paisagens, dos aromas, das pessoas que encontrei e muitas das que me ajudaram. Dos sons, das sombras e tudo isso me fez sentir saudade. 

No asfalto é melhor, mais confortável e administrável. Mas uma terrinha não fará mal, pelo contrário: me levará a pisar no chão e sentir o caminho pelo qual passo.

Carnaval está aí, quem sabe eu não desfile com a Moça em algum lugar fora da cidade?

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Caminho do Sol - Dia 5 FINAL - Monte Branco à Águas de São Pedro

Último dia.
Últimas despedidas.
Último amanhecer no Caminho do Sol!
Oi, Sol!
Tomei meu café bem feliz. Tive um sono excelente, pois uma breve chuva na noite anterior refrescou o clima. Assim que terminei o desjejum me despedi da Adriana e segui viagem. Faltavam apenas 40 km para Águas de São Pedro e estava com energias renovadas para fazer este trecho.

A primeira parte era mais ou menos do local aonde estava até o Rio Piracicaba, no bairro Artemis. Logo que parti, percebi que ia encarar uma serrinha. De princípio não gostei muito, mas depois lembrei que é muito mais prazeroso por conta das belas paisagens.
O pontinho branco isolado é uma estátua de Cristo, os outros são gado.

Caramba, que vista! Acho que este trecho, somado à emoção de estar cumprindo a missão, foi o mais bonito da viagem. Os primeiros 12, 15 km eram pastagens, nada de canaviais. AMÉM! rs.

No caminho, cruzei com camponeses sempre educados, cumprimentam sem olhar torto. Aqui na cidade grande sempre olhamos estranhos de modo desconfiado, quanta diferença. O caminho estava bem menos empoeirado do que os anteriores, graças à chuva da véspera que umedeceu a estrada. O Sol começou a esquentar mais cedo, porém haviam muitas sombras para descansar neste trecho. Tudo era perfeito!

Selfie feliz. Nos dias anteriores minha expressão era de cansaço.
Alguns km depois chego numa rodovia asfaltada. Subo uns 2 km e adentro em uma estrada que atravessa adivinha o que? Canaviais. Mas desta vez foi um canavial pequeno, coisa de 3 ou 4 km.

Ânimo!
Mais à frente chego em regiões mais povoadas e finalmente na ponte de ferro sobre o rio Piracicaba.
Cruzando a ponte pelo caminho dos pedestres, porque...

... a ponte ela é de mão única....

E também porque assim pude curtir o rio.
Cruzada a ponte eu chego no bairro Artemis. Tudo asfaltado, uma reta sem fim até a rodovia final. tedioso até. Depois de ver incríveis paisagens horas antes, este bairro era muito sem graça. Fui devagarinho, com um pouco de cansaço já anunciando, talvez por conta do destino final estar ficando perto. Chegando no final da reta havia um posto de gasolina e uma rodovia. Tentei comprar água no posto, mas estava em falta. Só tinha guaraná 2L. Bem, resolvi seguir caminho com a água que tinha. Subi a pé os dois primeiros km da rodovia, quis descansar um pouco o traseiro.

Mais à frente descubro que estou a apenas 6 km do meu destino final, e se eu seguisse a rota do Caminho do Sol, seriam pelo menos mais 10, por estradas de terra e mais canaviais. Com só mais 500ml de água disponível, segui pela estrada e ignorei o caminho oficial. Chega de canaviais! rsrs

Cheguei! Ou melhor, estou chegando!
Entro na cidade e esqueço de fotografar o portal. Não sei exatamente o que passava na minha cabeça no momento, mas eu estava emocionado. Cansado, mas com sensação de dever cumprido. Não era bem um dever, se eu desistisse no primeiro km ou no último, não haveria nada demais. Estou de férias e me divertindo. Enfim, estava muito feliz por chegar na cidade.

Aqui descansei uma meia hora.
Olha o São Tiago aí.

Descobrindo que um cicloviajante até termina um roteiro...

... mas nunca termina a viagem.
Após o descanso e algumas fotos pelo caminho, chego finalmente na Casa de Santiago, que fica dentro do Mini Horto Florestal da cidade. Entro, bato o sino pequenino na entrada e lá dentro para me receber... NINGUÉM! O lugar estava vazio!

E fui seguindo as flechas...

... até chegar na imagem de Santiago.

Daí encontrei um quiosque onde a Moça descansou.

Bonita a construção do altar a céu aberto.
Pensei que seria recebido por alguém, afinal, em todos os lugares havia alguém me esperando. Queria receber o certificado Arasolis, porém ele não é tão importante quanto as experiências vividas no caminho inteiro. Aproveitei que estava sozinho para descansar, trocar de roupa, me lavar no banheiro e ir almoçãr! Deixei a Moça amarrada lá mesmo e fui comer e comprar a passagem na rodoviária.
Entrada do sino.

Quando voltei, encontrei o zelador do local, que foi um pouco áspero no começo, mas depois puxei papo (sim, eu puxei assunto!) e ficamos horas conversando. Ele disse que uns dias antes três ciclistas completaram o caminho e também não foram recebidos por ninguém, e uma das ciclistas brigou com ele por conta disso. Mas o cara é só o zelador do parque municipal, se ele disse que não tinha nada a ver com a organização do Caminho do Sol, de que adianta descontar a frustração no pobre homem?

Enfim, depois fiquei sabendo que o Arasolis não era entregue lá, mas em uma loja em outro local. Alguém durante minha viagem ficou encarregado de me informar isso, mas esqueceu. Pelo visto esqueceu dos ciclistas anteriores também. Acho que é um pequeno ruído que eles precisam resolver logo.

Fiquei até umas 18h conversando no Horto, daí desci para a rodoviária, entrei no ônibus e voltei pra Sampa. 
Já no ônibus, indo pra casa. Tchau, Sol! Maneiro o seu caminho!

CONCLUSÕES

Roubando o slogan do Etapa, descobri que existe mais de mim em mim mesmo. A cada obstáculo vencido, o Gabriel pessimista sofria um duro golpe. Perdi a vergonha de puxar conversas, pedir informações, água, elogiar um almoço pro dono do restaurante e até trocar de roupa em local público (rsrs).

Fiquei com o corpo dolorido e cansado, mas conheci lugares e pessoas incríveis. O Sr. Jesus da pousada de Monte Branco e o Sr Clemente do Armazém do Limoeiro foram verdadeiros presentes em minha vida. Sabedoria vem com a experiência, e estes dois têm de sobra. Saber ouvir é a grande lição.

Hoje em dia, as pessoas querem falar, puxar os louros para si, publicar seus pensamentos no Facebook e dar importância apenas ao próprio umbigo. Não, não é assim que se chega em algum lugar. Seja curioso, ouvinte, humilde. Todo dia é um ótimo dia para aprender algo novo.

A Moça, minha bike... foi uma verdadeira dama. Terminou esta viagem melhor do que eu! Nenhum pneu furado, trinca, jogo... nada. apenas uma leve desregulada no câmbio, facilmente resolvida. Senti fadiga só no último dia. Recomendo este selim da B'Twin, assim como todas as outras peças que uso desta marca: pastilhas de freio, corrente, manoplas, bar-end, bagageiro, paralamas, alforges... fiz a rapa na Decathlon e recomendo. Bom DEMAIS e barato. Chegando em casa percebi um leve desalinhamento na roda traseira, mas vi que era um raio que afrouxou, bastou apertá-lo para a roda ficar perfeita. Depois de 210 km irregulares, a Moça se mostrou uma cicloviajante nata!

Quinta, 6 de Fevereiro de 2014
Km pedalados: 40.
Baixas: nenhuma.
Ouvindo: The Who e John Mayer no ônibus.





Total pedalado: entre 240 e 250km

E assim termina minha primeira cicloviagem. Não terei mais férias neste ano, portanto terei que planejar cicloviagens menores, utilizando os fins de semana. E em fins de semana que minha noiva esteja trabalhando, assim não ficamos sem nos ver.

Sim, a Denise viajou o tempo todo comigo, em pensamentos. Também foi por ela que fiz esta viagem. Para ter um estilo de vida mais saudável e viver muitos anos ao lado dela. Te amo!

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Caminho do Sol - Dia 4 - Capivari à Monte Branco (Piracicaba)

Há uns anos, fui submetido a uma avaliação psicológica que me fugiu o nome, em uma empresa que trabalhei. Não me lembro bem, mas o meu resultado dizia que sou uma pessoa levemente extrovertida, porém em qualquer situação de estresse me fecho e me torno introvertido.

Na estrada, isso se revelou um defeito quando pensei ter errado o caminho no segundo dia. Ao invés de esperar alguém passar e perguntar, tentei resolver dando meia volta até um ponto de apoio. Me ferrei porque tive que pegar um trecho íngreme e perigoso duas vezes. Neste quarto dia, tive que ignorar este defeito para poder chegar a salvo.
Here comes the Sun, tchurururuh...

O dia começou com uma salada de frutas. Foi ótimo, pois nunca tenho fome de manhã e a salada foi um kit nutritivo bacana. Me despedi da Fazenda Milhã ainda amanhecendo, com alguns cachorros fazendo algazarra e com uma brisa fresca. Meu destino era um lugar chamado Monte Branco, que no guia dizia ser um bairro de Saltinho. E lá fui eu, saindo da fazenda por uma estrada bem arenosa e horrível de pedalar. Tive que descer da bike e empurrar algumas centenas de metros até começar o cascalho. Alguns km depois chego numa rodovia e na entrada da cidade de Capivari. Uma placa dizia queesta era a cidade de Tarsilla do Amaral. Saber que ela era da roça explica a genialidade no modo que ela retratou o campo e o trabalhador brasileiro.

Placas na entrada da cidade.
Entro na cidade, não muito diferente de todas as outras que passei e alguns km à frente já estava na saída da rodovia, para seguir caminho até Mombuca. Aqui haviam duas opções: ir pelos tediosos canaviais encarar muitas pedras, ou seguir pela rodovia. Meus doloridos pés ficaram com a segunda opção. Neste trecho cruzei um speedeiro, solícito e rápido: perguntou se estava tudo bem, e mal deu tempo de dizer que sim e ele já estava longe rs.

Lanchinho
Chegando na minúscula Mombuca, passo por uma feira onde compro três bananas e uma cenoura. Paro numa praça e como a cenoura e uma das bananas. Estive na companhia de um gato e um cachorro, cada um num canto da praça e ambos olhando para mim. Foi uma situação engraçada ver cada um no seu território, aguardando desesperadamente por algo que eu pudesse dar. Coração apertou, mas fica para uma próxima.

Dando carona para a fauna local.
Saio de Mombuca por uma estrada bem pavimentada. Aqui também era um trecho alternativo do Caminho do Sol, pois a parada do Clube Arapongas não abre para os ciclistas. Com meus pés doloridos, o asfalto era a coisa mais linda. A estrada era ótima, empurrei em alguns trechos mas a pedalada rendeu. Comi a maçã que havia guardado no dia anterior e fui seguindo viagem. Estava com 50% de água.
Moça descansando.

Em dado momento, tive que pegar uma via de terra pois uma ponte estava interditada. Aqui começou o perrengue. Entrei por um caminho horrível, improvisado e íngreme. Só uma descida e depois somente subidas intermináveis. Mais à frente desemboco no caminho dos peregrinos, ou seja, estava na rota pauleira. Sol, sol e sol. Água quente, ainda assim restando apenas mais um gole. Vim bem carregado de água, uns três litros ou mais. Mas foi tudo! Passo por uma igreja totalmente fechada, nem torneira do lado de fora. Não tinha perspectivas de quando iria encontrar alguém, há mais de uma hora que não via uma alma viva.

Algumas subidas e curvas acima, encontro um sítio, onde havia uma senhora dentro de uma estufa regando as plantas. Nesta hora tive que deixar a timidez de lado. Água ninguém nega, era isso ou insolação... ou coisa pior. Timidez idiota a minha, a mulher me tratou como um filho, pegou água do congelador e me deu, enchi minhas reservas e ela sorria, feliz em me ajudar. Confesso que fiquei emocionado, não consegui dizer "obrigados" e "Deus te abençoes" suficientes para aquela anja.

Jamais acredite nesta placa.


Logo após me recompor eu continuei a viagem. Após uma curva, havia uma placa toda animadora: "Sorria, é só uma subidinha!". Subidinha né... acho que estou subindo ela até agora! Cansado como estava, eu fiz esta "subidinha" em três prestações.
Tá aí a @#$#% da subidinha.
Finalmente a estrada de terra termina e caio novamente no asfalto! Parei pra almoçar um frango delicioso em um restaurante chamado Packer. Nesta hora descubro que perdi o pacote com as outras bananas que havia comprado! De lá, ao invés de seguir a rota oficial do Caminho do Sol, novamente eu opto pelo asfalto e subo a rodovia sentido Saltinho. 10 km depois, chego na cidade e começo a procurar o bairro de Monte Branco. Para o meu desespero, descubro que o guia estava novamente errado. Monte Branco é um bairro rural de Piracicaba, não tinha nada a ver com Saltinho. Estava fora da rota uns 25 km, para ser orimista.
Doce ilusão de que eu estava chegando.

Já era umas 16 horas e lá fui eu, por uma estrada secundária, cansado mas ainda vivo. A estrada era bonita, reta e quase toda plana. A pedalada rendeu no começo mas o cansaço começou a apertar. Perguntava para todos que encontrava no caminho se eu estava no rumo certo. Até o momento que cheguei num bairro chamado Serrote e parei num boteco para comprar água. Nesta hora, não conseguia pedalar mais. Apelei por ajuda, e ofereci um money pra um cara com uma caminhonete me levar os últimos 8 km até Monte Branco. Descobri que minha timidez vai embora conforme minhas necessidades gritam. Seja por água, seja por carona. É o cicloturismo me ensinando.

Se não estivesse tão exausto, ia querer provar uma dessa marvada.
Cheguei numa chácara chamada Cantinho Feliz, onde o Sr Jesus e sua mulher Adriana me receberam muito bem. Local simples e família cativante. Logo que cheguei, eles colocaram uma jarra de suco de acerola com banana, estupidamente gelado e delicioso! Acerolas colhidas no próprio quintal. Nesta chácara, viviam harmoniosamente galinhas, papagaio, periquito, cachorro e gato. Um ecossistema perfeito. Uma das filhas do casal fazia massagem terapêutica, achei uma boa fazer, depois de tantas cãibras. Doeu! A menina só mexeu do joelho pra baixo, mas doeu demais! E como por um passe de mágica, depois desta massagem não tive mais cãibras nem dores nos músculos. Sobraram apenas as dores nas solas dos pés, por conta das pedras.
Cantinho Feliz, a Chácara feliz do Sr. Jesus e Adriana.

Janta servida, deliciosa. A noite foi boa, com muita prosa e histórias do Sr. Jesus. Junto com o Armazém do Limoeiro, o Cantinho Feliz foi o lugar mais cativante da minha viagem.

Hora de dormir. Sono veio rápido. O dia seguinte foi o dia da chegada, e do início de uma nova vida para mim.

Quarta, 5 de Fevereiro de 2014
Km pedalados: perdi a referência, mas foram mais de 70.
Baixas: duas bananas.
Ouvindo: histórias e causos.

Caminho do Sol - Dia 3 - Itu à Capivari

Bom dia Sol! Pega leve hoje, tá?
O galo cantou. Na verdade, vários galos! Meu primeiro amanhecer num haras. Eu já estava levemente acordado, acredito que no momento que você está cicloviajando seu relógio biológico fica mais eficiente.
Depois de um café da manhã e despedidas, caio na estrada com Bateria 50%: A minha cheia e a do meu celular na metade. Economizei bateria pra poder fazer fotos enquanto pudesse. Desliguei 3G, som... mas o celular morreu ao meio dia.



Partindo do Haras do Mosteiro, sigo pela estrada de chão batido sentido a cidade Salto, e já começo a encarar mais canaviais do que outras culturas. O açúcar é o combustível da locomotiva do país! Este primeiro trecho foi delicioso, com montanhas baixas que tornavam a paisagem mais graciosa. Me peguei cantando a música Andarilho, dos Persistentes. Aliás, Persistentes é a minha banda. Parte da letra:

"As sombras das nuvens dançam em sua retina
A vida lhe prega peças em cada esquina
Lá vai o homem caminhando sob a chuva fina
Andarilho...
Como um velho trem, segue no seu trilho!"

Depois de alguns km de estrada, passo a acompanhar uma linha férrea, já torcendo para ver algum trem. Tá, ver um trem é a coisa mais comum do mundo... mas eu tô muito criança nesta viagem e meu pedido foi atendido!

Piuí, abacaxi.
Depois de curtir o trem e todos os seus trocentos vagões, chego no asfalto de uma das entradas da cidade de Salto. Subo que nem um foguete e atravesso a cidade em menos de vinte minutos. Queria estrada!

Após atravessar a cidade sem fazer fotos (bateria nos 30% já), saio em outra rodovia e a cruzo uns metros depois. Entro por um terreno, subo empurrando por um caminho nada bike-friendly, daí continuei por uma rua e cruzei outra rodovia, para enfim pegar uma estrada de terra.
Atrás do canavial, uma bela paisagem. E meu celular morreu.
Segundo o guia do Caminho do Sol, a próxima etapa - Fazenda Vesúvio - estaria distante 18 km do Haras do Mosteiro. Eu já havia pedalado uns 14 até então. Pedalei mais uns 6km... e nada dessa fazenda. O caminho era bonito, gostoso de pedalar. Descobri que havia uma informação desencontrada no guia: Numa página, falava que a próxima etapa era na Fazenda Vesúvio, 18km. Em outra página, a etapa se chamava Chácara San Marino, 28km. Depois descobri que a tal Fazenda Vesúvio nem existia mais. Inclusive aquele caminho "nada bike-friendly" que mencionei foi feito como adaptação à nova realidade.

Depois de finalmente passar pela Chácara San Marino, sigo em direção de Elias Fausto. Parecia que nunca chegaria. Subo, desço, paro nas sombras, respiro fundo e continuo. E nada da próxima cidade. Honestamente eu não sei se as subidas eram íngremes, se Elias Fausto estava tão longe assim ou se tudo era coisa da minha cabeça. Quando enfim cheguei, confundi as infos do guia e pensei estar em um bairro ainda longe. Quando subi e cheguei na praça central e vi a igreja, o comércio e tudo o mais, vi que estava em Elias Fausto.

Comi uma coxinha na padaria, bebi um gatorade, reabasteci minhas reservas de água e segui viagem. Não lembro como cheguei na Rodovia do Açúcar, mas depois que saí dela, passei pelo momento mais tedioso dessa viagem: o canavial do meio do caminho. Uma reta sem fim, sem gosto nem graça. Dos dois lados só canaviais e nenhuma alma viva. No meio deste breu, uma placa me congratulando por estar na metade do caminho. E meu celular mortinho da Silva. Como diz um colega lá do trabalho, segue o jogo...

Após o tedioso canavial, chego em uma área de reflorestamento e avisto um lago. Sigo na estrada e alguns km depois encontro uma represa. Delícia de lugar, tinha até um senhor pescando. A parte boa é que o Caminho do Sol contorna toda essa represa e o caminho é todo com sombras!

Alguns km à frente, e finalmente chego à Fazenda Milhã. Sou recebido com um lanche generoso e água gelada. Esta fazenda data do século XVIII, seus proprietários são bem espirituosos e construíram várias mandalas de pedra em um jardim. E é da represa desta fazenda que sai a água que abastece 30% da cidade de Capivari.

Prédio da antiga sede.
Mandala de pedra.

Outra mandala.

Agora mais de perto.

 
Agora uma capela cristã.
Aqui que dormi =)

Fruta que adoçou minha viagem no dia seguinte.

Represa

O dia acaba de maneira maravilhosa no campo.

E assim foi meu dia. Cansativo, mas feliz. E ainda faltavam dois! O dia seguinte foi tão intenso que estou cansado só de pensar como o relatarei. Mas isso eu deixo para amanhã, ou depois. Até lá!


Terça, 4 de Fevereiro de 2014
Km pedalados: acho que 67
Baixas: nenhuma.
Ouvindo: cachorros latindo e grilos.











segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Caminho do Sol - Dia 2 - Santana de Parnaíba à Itu

Here Comes the Sun...
Eram seis da manhã quando os Beatles me despertaram. Uma melodia muito boa para uma aventura tão diferente. Eu mal sabia o que me esperava pela frente, mas este foi um dia de  Sede, Suor e Lágrimas.

Tomo o café rapidamente e ponho a bike na estrada. A pousada era bem simples, das acomodações ao café da manhã. Antes das sete já estava pedalando os primeiros 14 km rumo a Pirapora do Bom Jesus. Um trecho íngreme, onde não tive vergonha alguma em descer da Moça e empurrar. Aliás, mal sabia eu que isso se tornaria uma constante na viagem. Esta viagem é focada no prazer de pedalar e conhecer novos lugares, e não no sofrimento físico. Portanto, chegou uma subida chata eu já descia da bike e ia caminhando. Nesta hora percebi que perdi um dos meus pares de luvas. Baixa 1.

Sim, lá longe está o nosso poluído rio. Ainda assim, ele sabe ser belo.
Este trecho possui paisagens lindas! Por várias vezes é possível ver o rio Tietê, que mesmo exalando um odor horrível, ainda mantém certa beleza visual, completando a paisagem. Esta estrada é famosa por suas subidas intermináveis, mas o visual compensa.

Tietê em Pirapora do Bom Jesus.
Minha burrada foi típica de caipira de cidade grande: achar que haveria um posto de gasolina em cada esquina. Saí de Santana sem água e passei 13km com a língua seca. Quando cheguei em  Pirapora passei voando, parando apenas para comprar água e um Gatorade. O trecho entre Pirapora e Cabreúva foi o meu preferido até agora, principalmente depois que a estrada se reencontra com o Tietê. Neste trecho não há grandes subidas e a pedalada rende, até fiz um vídeo-piada sobre as corredeiras do Tietê.


Cabreúva.
Chegando em Cabreúva, segui todas as setas amarelas do Caminho do Sol e cruzei a cidade rapidamente. Ao sair pela rodovia, paro embaixo de uma árvore para descansar e como uns biscoitos. Vejo que estava com 50% de reserva de água mas decidi continuar, programando parar na próxima venda pra completar. Mais um erro. Alguns km acima, chego na Pousada Colinas, que é ponto de parada para quem faz o caminho a pé. Como para entrar na pousada havia realmente uma colina a ser vencida, continuei meu caminho pela estrada. Logo à frente começa uma subida que muito me lembrou a serrinha da Rio-Santos, entre Boiçucanga e Maresias. Era menor e menos íngreme, mas com o cansaço ela se tornou cruel. Subi quase toda empurrando, jogando a Moça pro mato quando vinha caminhão. Já exausto e sem ar, com a água quente e sem saber quando aquele barranco acabaria, bateu um desespero. Havia reparado que as setas amarelas que indicam a rota do Caminho do Sol haviam sumido. Será que estava no lugar errado? VRUUUMMM... outro caminhão passa colado, me desconcentrando. Estava tão preocupado que meu cérebro parou de computar o barulho dos veículos que vinham, e passou a ficar perigoso. Mas um dos meus objetivos ao fazer o Caminho do Sol era exatamente trabalhar meu auto-controle e minha capacidade de gerir em situações extremas. Graças a Deus, uns 400m adiante havia um ponto de ônibus, onde pude parar e descansar. Daí percebo que minha toalha de rosto também se perdeu em algum momento da viagem. Baixa 2.

Última gota de água, ninguém por perto, 3G inexistente pra consultar GPS, informação confusa no guia de bolso... fiquei entre descer todo o caminho e entrar na pousada pra me informar, ou arriscar seguir em frente.  Conclusão: desci toda a serrinha até a pousada, somente para descobrir que estava no caminho certo e subir tudo de novo. Pense num homem cansado que ainda precisaria pedalar outros 23 km naquele dia. Uma simples flecha pintada na subida da serra teria me tranquilizado. Enfim, é um erro que vou reportar para eles melhorarem. Porém, o atendimento na pousada foi tão bom que diminuiu a tensão. Lugar simples, mas com uma natureza bonita ao redor e piscina. Pretendo voltar nela com minha noiva.
Descansando depois de pedalar em círculos.

Estrada à frente, abastecido com muita água, encaro a subida novamente. Sofrível. Estava cansado e porisso pareceu ter demorado mais. Somando o tempo entre ter decidido voltar, descansar e subir de novo, perdi 1:30h do dia, e o sol ficando forte.

Mais à frente começou o trecho de terra, onde encarei uma subida em igual proporção à anterior, e com o sol rachando... vi que meu estoque estava no fim e passei a racionar. Meus pés passaram a doer e comecei a ter cãibras na musculatura da perna.
Hospitalidade interiorana e simplicidade cativante.
5km depois, chego ao Armazém do Limoeiro, onde mandei um sanduíche de mortadela e duas tubaína, além de ficar de prosa com o Sr. Clemente e a Dona Lalá, verdadeiros patrimônios da humanidade. Depois da perrenga tão grande pela qual eu passei, a recepção deles com música regional, o hino do Caminho do Sol e uma volta pelas redondezas para conhecer a capela, me emocionei. Pensei em minha mãe, que tanto gosta da simplicidade interiorana e que trarei em breve para conhecer e comprar um queijinho da fazenda. Ao sair, na primeira pedalada, sinto como se um cachorro mordesse a batata da minha perna! Outra cãibra, como nunca tive antes. Não conseguia mexer nada, tudo travado e uma dor absurda. Estava com uma energia tremenda pra continuar o caminho e assim que a perna amoleceu parti caminhando para estes últimos 11km do dia. Chegava na descida, subia e ia no embalo. Mais de 2h depois, cheguei no Haras do Mosteiro, onde passaria a noite.
Cores do Brasil: verde, amarelo, azul e branco.
Banho tomado, corpo moído... dei uma relaxada na cama e depois fui dar uma volta pelo haras. Lugar aconchegante, com belos cavalos, galinhas, paisagem interiorana e água gelada. O sol ia se pondo preguiçoso e o cheiro de comida boa ia dominando o ambiente. A Dona Rute preparou um jantar delicioso no fogão a lenha: salada, legumes, picadinho com batatas, arroz e feijão. Perfeito! Depois de um dia puxado, uma banquete. Para fechar o dia, um por-do-sol de tirar o fôlego!
Fogão à lenha, jantar delicioso!
O dono do caminho indo embora.
Estava cansado, com dores no corpo e com dúvidas se continuaria. Apesar de usar a bike 7 dias por semana na cidade, a Estrada dos Romeiros é cruel, quase sem trechos planos para descansar. Para ajudar, cãibras inéditas em minha vida, mas uma noite de sono faz milagres! Temi pelo que viria, mas pagaria para ver. História esta que contarei no próximo post.


Segunda, 3 de Fevereiro de 2014
Km pedalados: 63
Baixas: um par de luvas e uma toalha de rosto.
Ouvindo: modas de viola e o hino do Caminho do Sol.