Na estrada, isso se revelou um defeito quando pensei ter errado o caminho no segundo dia. Ao invés de esperar alguém passar e perguntar, tentei resolver dando meia volta até um ponto de apoio. Me ferrei porque tive que pegar um trecho íngreme e perigoso duas vezes. Neste quarto dia, tive que ignorar este defeito para poder chegar a salvo.
Here comes the Sun, tchurururuh... |
O dia começou com uma salada de frutas. Foi ótimo, pois nunca tenho fome de manhã e a salada foi um kit nutritivo bacana. Me despedi da Fazenda Milhã ainda amanhecendo, com alguns cachorros fazendo algazarra e com uma brisa fresca. Meu destino era um lugar chamado Monte Branco, que no guia dizia ser um bairro de Saltinho. E lá fui eu, saindo da fazenda por uma estrada bem arenosa e horrível de pedalar. Tive que descer da bike e empurrar algumas centenas de metros até começar o cascalho. Alguns km depois chego numa rodovia e na entrada da cidade de Capivari. Uma placa dizia queesta era a cidade de Tarsilla do Amaral. Saber que ela era da roça explica a genialidade no modo que ela retratou o campo e o trabalhador brasileiro.
Placas na entrada da cidade. |
Lanchinho |
Dando carona para a fauna local. |
Moça descansando. |
Em dado momento, tive que pegar uma via de terra pois uma ponte estava interditada. Aqui começou o perrengue. Entrei por um caminho horrível, improvisado e íngreme. Só uma descida e depois somente subidas intermináveis. Mais à frente desemboco no caminho dos peregrinos, ou seja, estava na rota pauleira. Sol, sol e sol. Água quente, ainda assim restando apenas mais um gole. Vim bem carregado de água, uns três litros ou mais. Mas foi tudo! Passo por uma igreja totalmente fechada, nem torneira do lado de fora. Não tinha perspectivas de quando iria encontrar alguém, há mais de uma hora que não via uma alma viva.
Algumas subidas e curvas acima, encontro um sítio, onde havia uma senhora dentro de uma estufa regando as plantas. Nesta hora tive que deixar a timidez de lado. Água ninguém nega, era isso ou insolação... ou coisa pior. Timidez idiota a minha, a mulher me tratou como um filho, pegou água do congelador e me deu, enchi minhas reservas e ela sorria, feliz em me ajudar. Confesso que fiquei emocionado, não consegui dizer "obrigados" e "Deus te abençoes" suficientes para aquela anja.
Jamais acredite nesta placa. |
Logo após me recompor eu continuei a viagem. Após uma curva, havia uma placa toda animadora: "Sorria, é só uma subidinha!". Subidinha né... acho que estou subindo ela até agora! Cansado como estava, eu fiz esta "subidinha" em três prestações.
Tá aí a @#$#% da subidinha. |
Doce ilusão de que eu estava chegando. |
Já era umas 16 horas e lá fui eu, por uma estrada secundária, cansado mas ainda vivo. A estrada era bonita, reta e quase toda plana. A pedalada rendeu no começo mas o cansaço começou a apertar. Perguntava para todos que encontrava no caminho se eu estava no rumo certo. Até o momento que cheguei num bairro chamado Serrote e parei num boteco para comprar água. Nesta hora, não conseguia pedalar mais. Apelei por ajuda, e ofereci um money pra um cara com uma caminhonete me levar os últimos 8 km até Monte Branco. Descobri que minha timidez vai embora conforme minhas necessidades gritam. Seja por água, seja por carona. É o cicloturismo me ensinando.
Se não estivesse tão exausto, ia querer provar uma dessa marvada. |
Cantinho Feliz, a Chácara feliz do Sr. Jesus e Adriana. |
Janta servida, deliciosa. A noite foi boa, com muita prosa e histórias do Sr. Jesus. Junto com o Armazém do Limoeiro, o Cantinho Feliz foi o lugar mais cativante da minha viagem.
Hora de dormir. Sono veio rápido. O dia seguinte foi o dia da chegada, e do início de uma nova vida para mim.
Quarta, 5 de Fevereiro de 2014
Km pedalados: perdi a referência, mas foram mais de 70.
Baixas: duas bananas.
Ouvindo: histórias e causos.
Revi o post inicial, da preparação. E agora,vendo o relato real, foi inevitável lembrar do saudoso Joelmir Beting: "Na prática a teoria é outra..."
ResponderExcluirBenvindo ao mundo real, Gabriel!
Sob outro aspecto, eu também sofri um pouco com minha introversão (sou fechado mesmo) e até uma certa autosuficiência arrogante: no início relutava muito em PEDIR uma ajuda, até informações, achava que resolveria tudo sozinho...
Estou aguardando o desfecho da grande aventura. Por curiosidade: a sola do tênis que usou deve ser muito fina, para todas as dores que relatas. Eu não tive esse problema, nem cãimbras. Você fazia aquecimento sempre, antes de iniciar o pedal?
Cesar, o tênis que uso é um Rainha Volei. Gosto dele por ser de pano e ter uma sola fininha, assim sendo bem leve e prático. Para a cidade ele é ótimo por conta destas características, mas se revelou inapto à terra. Erro de planejamento, pois não considerei que boa parte da viagem eu passaria empurrando a bike por estradas de cascalho. Como você disse: bem-vindo ao mundo real! hahahah
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