quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Minha experiência numa e-bike.

O mercado mundial de e-bikes está crescendo como nunca. Seja em esportes ou na mobilidade urbana, as bicicletas elétricas vieram para ficar. Mas e aqui no Brasil? Bem, eu não acompanho profundamente a movimentação mundial desse mercado, apenas minha percepção local eu posso considerar, e salvo pontuais excessões, é um mercado dividido entre tecnologia velha e de ponta, ambas muito inacessíveis. 

Atualmente existem modelos modernos à disposição no Brasil. Porém, seus preços são proibitivos para a maioria de nós, por conta da alta do dólar, da tecnologia e da carga tributária. Na faixa de entrada, transbordam modelos que podemos considerar como bicicletas de fundo de quintal, pois são basicamente bicicletas comuns, montadas com o que há de mais barato disponível, acrescidas do sistema elétrico. As excessões são poucas, bem poucas.


Bicicleta de preguiçoso?

Se fosse verdade, o que o motociclista e o motorista seriam?


A e-bike um veículo moderno, que está revolucionando a mobilidade urbana e o ciclismo. Quem pedala uma e-bike não é preguiçoso, visto que nem todo trajeto e nem toda pessoa mora são combinações ideais. Subidas, calor, hostilidade e grandes distâncias impedem muitos cidadãos de usarem bicicletas convencionais. Nem todos têm físico e biotipo privilegiado, mas todos têm o direito de ir e vir, junto a insatisfação com a qualidade do transporte público. Some isso ao valor do combustível, do estacionamento, das taxas anuais para se manter um veículo motorizado... deu preguiça só de pensar, né? 


Para algumas pessoas o carro é indispensável, para outras, uma bicicleta resolve e para tantas outras, um bom tênis é mais que suficiente. Porém, há um enorme 'meio termo' entre todas essas realidades. Quando trabalhava na Paulista, conseguia usar a bike quase que diariamente, porém ainda chegava um pouco suado no trabalho, tendo que trocar a camisa. Se tivesse a ajuda de uma e-bike, não precisaria me preocupar com isso. 


No lazer, o conceito é o mesmo: todos têm o direito de usufruir dos prazeres do ciclismo, de treinar com segurança e desbravar caminhos de bicicleta. De chegar mais longe, de curtir o passeio sem medo de dores desnecessárias. A e-bike te livra da fadiga excessiva e não há problema algum nisso. Tem pessoas que nem com todo o treino do mundo, alimentação correta e sono em dia conseguem pedalar grandes distâncias, mas elas adorariam fazer isso, se fosse possível.



Já ouviu falar de pedal assistido?

Não, não é um pedal que passa na televisão (rs)

Bicicletas com pedal assistido possuem um sensor que capta o movimento do pedivela, entende que a bicicleta está em movimento e aciona o motor.  Existem basicamente dois tipos de pedal assistido: com sensor de giro e com sensor de torque.

 

Sensores de giro acionam o motor ao detectar que o ciclista pedalou. É pá-pum: entendeu que o ciclista quer andar, já entrega a força máxima programada. É um sistema mais arcaico, com menos escalonamento da potência entregue, ou seja, se você precisar manobrar em baixa velocidade, corre o risco do motor dar um tranco, te dando um susto que pode te levar ao chão. Para dar alguma segurança, esse sistema tem um sensor nos manetes de freio, que desliga o motor ao ser acionado. 


sensor de torque é uma evolução. Consiste em um sistema que calcula a pressão exercida, acionando a potência do motor de acordo com ela. Se você pedala tranquilamente, ele te ajuda suavemente. Se vier um esforço maior por conta de uma subida, ele aumenta a entrega do motor, afim de compensar essa diferença. Somado aos níveis de assistência programáveis pelo ciclocomputador, é um sistema que pedala contigo, e não para você. Essa tecnologia surgiu nos motores centrais (na região do pedivela), mas bicicletas com motor traseiro (no cubo da roda traseira) mais modernas já possuem o recurso. 



E-bike ou bicicleta adaptada?

O mercado está usando cada vez mais o termo e-bike para se referir a bicicletas com auxílio elétrico. É um apelo mercadológico que a meu ver desmerece a verdadeira bicicleta elétrica, ou e-bike. 


Em resumo, uma e-bike é uma bicicleta que foi projetada para ter auxílio elétrico, e esse auxílio se dá via pedal assistido. Já uma bicicleta comum, que recebeu um kit elétrico, deveria ser chamada de bicicleta eletrificada. E mais: se possui acelerador, nem bicicleta é, já vira ciclomotor.


As bicicletas eletrificadas são, em geral, os modelos mais baratos do mercado. Na maioria das vezes, são bicicletas com componentes de baixíssimo custo, para compensarem o valor do kit elétrico. Só que uma bicicleta com componentes de baixo custo mal conseguem dar conta de si mesmas, tampouco receber um kit elétrico, que irá levar tais componentes ao limite. Tem que ficar muito de olho ao comprar uma bicicleta dessas. Em geral elas têm um visual bem poluído, com muitos cabos e componentes expostos.


Uma bicicleta projetada para ser e-bike sempre terá um visual mais harmônico. O quadro e toda a estrutura é projetado para receber bateria, motor, fiação e tudo o mais. Quando a bateria fica no bagageiro, este é projetado sob medida e não parece uma adaptação. Em todos os casos, o sistema controlador é embutido, diferente das adaptações, onde ficam todos expostos do lado de fora da estrutura dos quadros. Em alguns modelos, o sistema elétrico é tão bem adaptado que a e-bike parece uma bicicleta comum. 


Caso você deseje eletrificar sua bicicleta atual, dê atenção aos componentes dela. Vale colocar uma relação nova, freios melhores, conferir se o quadro aguenta, pois a bateria será um peso permanente, seja no down tube ou no bagageiro. Também verifique o movimento central e considere trocar a 'caixaria' por um cartucho selado. Se você usar uma bike ruim, erá uma e-bike ruim. Não economize em ítens de segurança, pois é sua integridade física que estará em jogo.



Minha experiência

O fator psicológico é capaz de derrubar até o ciclista mais preparado. 


Já cheguei a desidratar e ter exaustão no meio de um trajeto. Isso numa época em que eu era muito mais preparado fisicamente do que hoje em dia. Mais magro, mais forte, mais jovem. E o blackout aconteceu, no meio do nada, sem água e no verão mais quente e seco que tivemos na década passada. Sorte que Deus colocou pessoas boas no caminho, que me deram água e sombra para me revigorar. O medo de que isso se repita sempre me assombrou, tirando parte do prazer de uma pedalada longa. E é contra esse fantasma que uma e-bike é eficiente.


Tive a oportunidade de pedalar uma e-bike moderna, com motor traseiro de 250w, pedal assistido com sensor de torque e 5 níveis de assistência. Testei todos os níveis de assistência e logo percebi que os níveis máximos são para mobilidade urbana, o famoso "chegar sem suar". Nos níveis mínimos, a e-bike se torna uma excelente aliada da saúde, permitindo uma atividade física controlada e segura. Essa é a maravilha do sensor de torque: ele não faz a e-bike rodar por você, mas com você. 


Resolvi fazer um caminho conhecido, que é um circuito onde vou pela Paulista até a Vila Madalena, subindo até a Cerro Corá, seguindo por ela até o cemitério da Lapa e descendo ao Parque Villa Lobos, voltando pela ciclovia da Bernardino de Campos até a Faria Lima, Vila Olímpia, Moema, Indianópolis, Igreja São Judas, Av Jabaquara e finalmente minha casa. 40 lindos e arborizados quilômetros urbanos com subidas íngremes em diversos momentos. 


Como eu pretendia fazer um exercício aeróbico, deixei a e-bike na assistência mínima, e saí para pedalar. Foi maravilhoso! As arrancadas eram suaves, os aclives da cidade desaparecem e minha cadência permanecia constante, gerando uma queima calórica saudável e muito prazeirosa. Fazia apenas o esforço apenas para manter a velocidade e, nas subidas mais íngremes, subia para uma marcha mais leve e aumentava para assistência 2, afim de equilibrar cadência e esforço. Um sucesso.


De bicicleta comum, termino sempre com os músculos exauridos, impedindo qualquer exercício no dia seguinte. Com a e-bike, eu cheguei em casa transpirando, mas com os músculos em dia, fortalecidos pelo exercício mas sem dores por conta de esforço excessivo. Foi tão bom que no dia seguinte consegui pedalar distância semelhante, inclusive subindo a Av. Rebouças sem medo! Naquela semana, somei mais de 160 km's pedalados, um record pessoal.


E-bikes são o futuro? A bicicleta tradicional vai morrer?

Creio que as e-bikes serão mais acessíveis ao longo do tempo, com a evolução tecnológica das baterias e motores. Só espero que essa evolução se dê pelo amadurecimento do consumidor, e não porque uma tecnologia se tornou ultrapassada e seu preço ficou mais atraente. O Dólar e os impostos jogam contra essa evolução, mas posso falar que as e-bikes vieram para ficar. 


Não creio que a e-bike irá matar a bicicleta tradicional, pois ela continuará sendo o veículo mais prático e eficiente que existe. Mas acredito que elas estarão cada vez mais destinadas ao esporte e lazer, deixando um pouco a função mobilidade para as e-bikes. Tudo depende de como evoluirá a tecnologia, e quanto ela custará para nós.