terça-feira, 23 de outubro de 2018

Bicicletarias Horácio


Esta postagem complementará outra bem antiga, de 2015: “Bicicletarias Gourmet. Cuidado: vai sair caro.



Neste domingo, consegui arrumar um tempinho entre as atividades de pai e de cozinheiro da família para dar uma pedaladinha até a Paulista. Faziam uns dois meses que não fazia nenhum passeio dominical e tava com saudades de conversar com os “bandeirinhas” da ciclofaixa de lazer.

Porém, assim que saio de casa, escuto um dos sons mais chatos que uma bicicleta pode emitir: o estalo da quebra de um raio da roda.

Não era o fim do mundo, mas a verdade é que eu estava com preguiça de bancar o mecânico, pois no mesmo dia eu já havia feito a troca do pedivela e do movimento central. Então fui até uma das bicicletarias que abrem domingo na Av. Jabaquara pra pedir pra eles colocarem o raio para mim.

Entro na loja - que estava tristemente vazia - e pergunto se eles tem raio para a minha roda. Dito o sim, peço para colocarem somente o que faltara, pois tinha pressa e queria aproveitar o restinho de sol. O mecânico, na maior má vontade, perguntou se eu ia deixar a bicicleta lá para pegar NO DIA SEGUINTE. Falou que era muito complicado TROCAR UM RAIO.

Expliquei que não queria um alinhamento completo, apenas um raio novo. Neste momento o dono interveio, a favor de seu mecânico. Disse que era muito demorado, pois tinha que desmontar o disco de freio, cassete, tirar a roda… e isso tudo não daria tempo de ser feito antes da loja fechar. Olha a cultura do empresário bicicleteiro moderno! Uma loja vazia, sem clientes, sem vontade. Começou a falar das complicações de trocar UM raio, como se fosse uma penitência estar lá. Sabe aquela hora que vc ouve a ladainha e finge estar escutando, mas no fundo está querendo dar uma gargalhada? Enfim.

Como não gosto de jogar xadrez com pombos, comprei um jogo inteiro de raios e fui embora para fazer o serviço.

Já em casa, entre desmontar a roda, tirar cassete, disco de freio, colocar o raio novo no lugar do quebrado e remontar tudo, levei eternos DOZE MINUTOS! Deu tempo de passar na frente da loja, dar um toque no sininho e mandar um joinha para aquela Equipe Nota Dez!

Essa mania das bicicletarias novas em tornar algo simples um bicho de sete cabeças me irrita!

Saudades da bicicletaria do Seu Luciano, lá na Rua das Rosas. Um bom mecânico, já idoso, que se aposentou. Bicicleteiro de verdade, que alinhava roda com pneu e tudo, que não tentava empurrar câmara nova se desse pra remendar, que não tentava trocar todos os cabos se desse pra fazer uso do velho e bom óleo Singer. Não punhetava a bicicleta, empurrando equipamentos caros pra você que só vai na padaria. Não enrolava ninguém e sempre estava com a mão na massa, cheio de serviço. Chegava a indicar outras bicicletarias para desafogar um pouco a dele.

Hoje temos um bando de bicicletarias que torcem pro cliente não saber nada, para não correrem o risco de mostrarem que sabem menos ainda. Essas bicicletarias passam a maior parte do tempo ocioso, porque quando entra um cliente precisando colocar um raio na roda, eles querem que você marque horário.