quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Bicicletarias Gourmet. Cuidado: vai sair caro.


O ser humano sente necessidade de se diferenciar dos demais. Não aceita ser “só mais um”, parte da massa. Sempre que pode, busca algo para se mostrar diferente. Um exemplo disso é um mercado na Ricardo Jafet, cuja fachada é uma vidraça enorme onde se vê os caixas. Nada mais “in” do que aparecer na vitrine fazendo compras em um mercado “premium”. Nada de novo nisso, afinal, faz parte da natureza humana querer se destacar, mesmo que 99% dessas pessoas buscam isso da mesma maneira, se tornando ainda mais iguais. E assim aquela balada “alternativa” sempre tá lotada, aquele picolé mexicano vende em qualquer esquina e até a kombi do dogão de rua agora se chama foodtruck e cobra 4x mais pelo mesmo coliforme fecal. Tatuagem? Quase todo mundo tem.

No mundo das bikes isso acontece sempre. Com as magrelas entrando na rotina de milhares de paulistanos, cresceu o conceito de “ciclista com estilo”. Afinal, uma pessoa tem que estar fantasiada de "biker" para se diferenciar do bicicleteiro que entrega água de barra forte. Tem também o hipster, cuja bike é apenas um "acessório estético" para incrementar o seu estilo. E para essa demanda, surgem bicicletarias metidas à besta. Desculpem a sinceridade, mas é a verdade! E fazem sucesso carregando no preço e empurrando produtos que na maioria das vezes você não precisa. Um leigo em ciclismo que quer uma bike só pra andar na ciclofaixa, sairá de uma loja dessas com uma bike carbono com grupo deore! Já presenciei situações absurdas e até fui mal atendido em algumas, simplesmente por saber o que eu queria. O bom comércio é aquele que respeita a necessidade do cliente e a supre, lucrando com isso. Essas lojas suprem a necessidade delas, extrapolando a necessidade dos clientes. E ainda são tidas como "especialistas".

Abaixo o relato de alguns casos que vivi/presenciei nos dois últimos anos. Não citei nomes por razões éticas, mas quem quiser saber via inbox, eu digo. 

Poxa, só um parafuso?
Minha primeira bike foi uma Caloi Aspen, que logo. No início espanou o parafuso do câmbio dianteiro. Levei ela numa bikeshop. A loja estava movimentada e vi o proprietário conversando com um cliente de uns 55 anos e sua Specialized novinha:

- A bike está boa?
- Está sim. Trouxe para a revisão que você falou.
- Ótimo, é bom mesmo pra tudo ficar em ordem. quando vc comprou ela mesmo?
- Há seis meses.
- Hum, então temos que fazer uma revisão completa, trocar os cabos, fitas anti furo e ver se a câmara tá inteira. Deixar ela novinha e sem problemas!

Oi? Uma SPZ de seis meses, usada só no parque, ter que passar por uma revisão do nível de trocar todos os cabos e outros componentes? Que piada! Quando finalmente me atenderam, um dos mecânicos foi à contragosto procurar o parafuso, mas no mesmo minuto foi chamado pelo chefe para regular uma bike que acabara de ser comprada. Ao passar por mim, disse que não tinham o que queria (isso porque nem procurou).

Me dá seu e-mail.

Há uns meses passei numa loja perto do meu caminho à procura de um eixo para minha roda traseira. O proprietário anotou meu e-mail e disse que entraria em contato com o fornecedor e me posicionaria. Bem, até hoje não retornou. Pesquisei na internet e achei a peça por R$ 19,00. Logo entendi: a loja era boa demais pra uma compra tão pequena.

Não temos, tchau!
Hoje fui numa das mais famosas bicicletarias gourmet atrás de uma peça que vi no site. Logo que cheguei fui atendido por um rapaz, que rapidamente perdeu o interesse em mim ao ver que a peça que procurava havia terminado. Tentei continuar a conversa fazendo uma pergunta específica, mas o vendedor me largou falando sozinho e foi atender um casal que estava encantado com uma cesta “vintage e importada da Inglaterra”. Não, ele não pediu licença e saiu, apenas me deixou falando sozinho! Isso porque já tinha outro vendedor atendendo aqueles clientes.

Gente, compreendo a necessidade humana de se diferenciar. O mercado atende a essa sede vendendo bikes de aço carbono por 5 mil Reais só porque são beges com manoplas de couro. Não caia nessa!

Dicas básicas, óbvias e manjadas:

• Conheça sua bike. Saiba o básico de mecânica, no youtube está cheio de vídeos explicativos e não faltam sites explicando os componentes básicos da bicicleta. Lojas mequetrefes perdem o interesse quando não podem te lubridiar.  

• Jamais compre por impulso.

• Aço carbono é o modo mais barato de produzir um quadro. Desconfie de bikes deste material que custem mais de 1.000 Reais. Mesmo se for européia, bege e com manoplas em couro. Salvo se for uma bike usada antiga rara.

• Muito Google antes de passar o cartão. Claro, existem lojas “premium” possuem produtos legais, que não encontramos em bicicletarias comuns. E a maioria dessas lojas atendem bem, respeitam o consumidor e buscam satisfazê-lo. Porém são lojas que cobram muito mais do que o preço real. É a tal “exclusividade” que eles vendem.

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