Domingo passado estava louco para matar a saudade da ciclofaixa de lazer, que voltaria a funcionar naquele dia. Mas antes do prazer vem a obrigação, portanto peguei minha sacola e parti a pé para a feira do bairro.
Chegando na Av. Jabaquara, encontro a ciclofaixa e perco o ânimo: dezenas de pessoas amontoadas nos faróis, sem distanciamento, metade sem máscara, muitos cagando pra presença dos bandeirinhas e fazendo suas próprias regras... um nojo. O que poderia ajudar a criar uma nova cultura ciclística na cidade só serve para que os novos ciclistas se banhem em maus exemplos e sejam tão mal educados quanto os motoristas e motociclistas da cidade. Definitivamente, o público da ciclofaixa é o reflexo de uma sociedade mal educada, que burla qualquer regra quando lhe convém.
Decidi então que, ao invés de passear pela coronafaixa de lazer, iria fazer passeios solitários pela cidade e em torno dela. Decidi inaugurar esses passeios com uma esticada até Ribeirão Pires, partindo de minha casa. Ando bem enferrujado e necessitado de movimento.
A semana voou e no domingo seguinte acordei bem cedo, e antes de amanhecer já estava pedalando sentido Jabaquara. A previsão do tempo apontava um dia mais frio e com alguma garoa. Estava muito aprazível aquele fim de madrugada, com 16 graus.
Chegando no Jabaquara, peguei a ciclovia que vai até Diadema, saindo dela alguns kilômetros à frente, descendo uma rua diretamente para a Rodovia dos Imigrantes. Foi uma boa escolha sair nesse horário, pois existem diversos lugares com relatos de assaltos naquelas regiões. A escuridão me camuflava. Liguei apenas a lanterna traseira, por segurança. A lanterna dianteira só usava quando queria alertar alguém da minha presença, em geral pessoas se exercitando pelo acostamento.
Passando um pouco de Diadema, começou a garoar. Nessa hora o dia começou a raiar, e pedalar pela estrada estava uma delícia. Apareceram outros grupos de pedal, todos muito mais rápidos que eu hehehe... meu ritmo médio é entre 8 e 15 km/h. O tempo todo tinham ciclistas atrás de mim ou à minha frente. Mantive uma distância saudável de todos - mínimo de cem metros - pois não estava afim de colocar a máscara naquele momento. Em certo momento, achei uma lanterna tática piscando no chão. Um modelo antigo, à pilha. Bem nessa hora não tinha nenhum ciclista à vista, e a neblina apertou. Coloquei no bolso e segui meu caminho, pensando que iria ver alguém procurando à frente. No fim só lembrei dela no meu bolso quando cheguei em casa.
Chegando perto da represa, a garoa aumentou, combinada com neblina. Como há dias não chovia, o chão estava cheio de fuligem e barro. Pensa numa bike de pneus lisos 700x25 (muito finos) e sem paralamas. Resultado: passei a viagem inteira tomando sujeira no corpo todo, uma nhaca! Eu via as bolinhas de lama voando em cima de mim! Era engraçado e irritante ao mesmo tempo.
Passei o pedágio, naquela interminável subida suave, que chega a dar preguiça. Cheguei na interligação e parei para umas fotos e comer uma barrinha de cereal.
Lavei a cara pra foto, mas ainda saiu suja. |
Falando em cereal, algum caminhão (ou alguns) levando milho para o porto de Santos passou derramando boa parte do alimento ao longo da estrada. Vejam na borda do acostamento a quantidade de grãos. O rastro de alimento começou depois do Rodoanel e me acompanhou até eu chegar na Anchieta. Desperdício normalizado num país com gente passando fome.
Nem João e Maria jogaram tantos grãos pelo caminho. |
Passei os 10km da interligação debaixo de chuva e visibilidade baixíssima. Os grupos de pedal ou seguiam para a Estrada de Manutenção, ou davam meia volta até SP. No meu roteiro estava sozinho. Claro que, no momento que parei atrás de uma placa pra fazer xixi, passa um carro buzinando. Eu ri, porque faria o mesmo rs.
Chegando na Anchieta voltei a ver ciclistas, que faziam o mesmo que os colegas da Imigrantes. Iam até o retorno e voltavam. Mais 10km se seguiram e cheguei na Rodovia Caminho do Mar. Estradinha gostosa de pedalar, com uma vista agradável das lagoas que margeiam a estrada. Pedalei por este caminho sentindo um cheio de comida que me torturava. Estava na Rota do Peixe. Que fome que me bateu! Logo à frente, entrei na rodovia Índio Tibiriçá. Fui o único ciclista que não seguiu em direção ao polo ecoturístico, onde está a velha estrada para Santos. Ainda bem, aliás! Tem muito restaurante exalando cheio de peixe por aqueles caminhos e eu ia perder o foco! Já fiz esse caminho de carro e é um passeio muito bonito, cheio de verde e belas passagens pela represa, ainda pretendo fazer esse trecho pedalando e comendo.
Depois que secou, o excesso de barro saiu na palmada hehehe |
A Índio Tibiriçá é uma rodovia gostosa de pedalar. Tem seus aclives e declives, nada absurdo, mas para alguém que já pedalou 60 km com chuva e lama na cara, se tornou um pouco cansativa. Aquele psicológico 'tá chegando'. Foi muito boa a pedalada, a estrada é um tapete só e mesmo com o tempo nublado pude apreciar sua beleza. Venci esses últimos 13km relativamente rápido, apesar de ter tido cãibras em dado momento, onde resolvi parar num ponto de ônibus, comer mais uma barrinha e descansar uns dez minutos. Tava tão gostoso ficar lá, pelo ar fresco e o cheiro de mato, que quase dormi! Enfim, antes que a preguiça tornasse tudo pior, montei na bike e fiz os últimos 5 km.
Cheguei em Ribeirão Pires, fui direto para a estação de trem, onde troquei de roupa no banheiro da plataforma e voltei pra casa a tempo de comer o almoço. Que delicia de pedal!
Foi um domingo muto agradável, sem perrengues (não considero a chuva um problema, mas parte do caminho), nem cansaço além do normal. Claro, para alguém que só tem feito pedaladas no bairro, foi um belo rolê que gerou alguns músculos doloridos, mas não acabou comigo nem me deixou destruído. Pensam que só por que sou gordo, eu sou mole? Rs.
Semana que vem pretendo fazer um pedal mais doméstico, rodar dentro da cidade (e longe de ciclofaixas). Mas quero começar a fazer alguns pedais mais longos por estradas, sem medo de ser feliz.
Total pedalado: 74 km
Início: 06:00h - término 12:00h
Tempo total de paradas: 30 minutos
Achados: 1 lanterna tática das antigas
Baixas: nenhuma
Total gasto: R$4,40 com passagem de trem.
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